"Algumas coincidências não podem ser apenas coincidências."
Sexta-feira de gala na ilha...
Dia lindo de doer, céu de Brigadeiro e mar de Almirante, ando inspirada e (ainda mais) reflexiva...
É... há momentos em que a gente pisa na bola, e percebe que não pode culpar mais ninguém por isso... no fim das contas, somos nós contra nós mesmos...
Como se, numa mudança de foco e perspectiva, descobríssemos não sermos os algozes, e sim os responsáveis por certos desfechos recorrentes da própria história...
É... há momentos em que a gente pisa na bola, e percebe que não pode culpar mais ninguém por isso... no fim das contas, somos nós contra nós mesmos...
Como se, numa mudança de foco e perspectiva, descobríssemos não sermos os algozes, e sim os responsáveis por certos desfechos recorrentes da própria história...
Chegou a hora, fechou o cerco, e a vida vem convidando a mudar de padrões, abandonar certos vícios, largar a carapaça (que na verdade não nos protege de nada), baixar a guarda e ir além do que se aparenta... Há o joio, mas também o trigo... Há que se deixar os dados rolarem, há que se apostar...
Por "n²" razões, tenho lembrado (e muito) do meu livro favorito...
A elegância do ouriço
(Muriel Barbery)
(Muriel Barbery)
O livro é focado em duas personagens, que relatam suas vidas ligadas pelo local onde moram - um prédio requintado em Paris - e pelas similaridades subjetivas na maneira de ver o mundo. Não poderiam ser mais antagônicas e ainda assim complementares.
Renée é a concierge do prédio. Aparentemente ranzinza, mas que esconde por trás desta couraça que ela criou para sua própria defesa, uma pessoa inteligente, sensível e com uma percepção muito aguçada sobre todas as coisas. Um tipo de filósofa que adora a literatura.
Paloma é moradora do prédio, tem 12 anos, é superdotada, mas faz questão de esconder sua capacidade real; Por ter uma visão trágica da condição humana, ela não se enquadra nas dinâmicas que a cercam: familiar, escolar, social, e posiciona-se como expectadora, questionadora e crítica disto.
Reneé e Paloma, cada qual a seu modo, mantêm-se na defensiva diante de um mundo hipócrita. As duas personagens narram a história sob seus respectivos pontos de vista. Em um primeiro momento, elas o fazem separadamente. Contudo, algo acontece e seus destinos são cruzados, graças a um novo morador, que as enxerga como verdadeiramente são.
Acho que nunca havia me identificado (e me apaixonado) por um livro de forma tão arrebatadora.
Comecei a transcrever os trechos que mais gostava... desisti... Seria preciso passar o livro inteiro para o papel.
Por diversas vezes li frases que poderiam ter sido escritas por mim, de tão verdadeiras que me pareciam.
Chorei, e muito, em vários momentos.
Comecei a transcrever os trechos que mais gostava... desisti... Seria preciso passar o livro inteiro para o papel.
Por diversas vezes li frases que poderiam ter sido escritas por mim, de tão verdadeiras que me pareciam.
Chorei, e muito, em vários momentos.
É unânime, todos que terminaram a leitura, tiveram vontade de relê-lo.
Fica a dica ; )
Fica a dica ; )
Deixo aqui alguns (dos vários) trechos que posso citar, na tentativa de provar (mais do que nunca) esta identificação...
Um tanto Paloma... um tanto René...
Um tanto Paloma... um tanto René...
"…Ela tem a elegância do ouriço: por fora, é crivada de espinhos, uma verdadeira fortaleza, mas tenho a intuição de que dentro é tão simplesmente requintada quanto os ouriços, que são uns bichinhos falsamente indolentes, ferozmente solitários e terrivelmente elegantes."
" ... meu Everest é uma exigência intelectual. Fixei-me com objetivo de ter o máximo de pensamentos profundos e anotá-los neste caderno: se nada tem sentido, pelo menos que a mente se confronte com esta situação, não é mesmo?"
" Tenho que dar duro, para parecer mais idiota do que sou..."
"(...) é a primeira vez que encontro alguém que procura as pessoas e que vê além. (...) Nunca vemos além de nossas certezas e, mais grave ainda, renunciamos ao encontro, apenas encontramos a nós mesmos sem nos reconhecer nesses espelhos permanentes. (...) se tomássemos consciência do fato de que sempre olhamos apenas para nós mesmos no outro, que estamos sozinhos no deserto, enlouqueceríamos. (...) Do meu lado suplico meu destino que me conceda a chance de ver além de mim mesma e encontrar alguém."
" ... olhos que trespassam, ouvido absoluto para contradições, hipersensibilidade ao que é dissonante..."
“Sempre fico fascinada pela abnegação com que nós, humanos, somos capazes de dedicar uma grande energia à busca do nada e à mistura de pensamentos inúteis e absurdos”
"Bah, sei lá. (...). Há pessoas valorosas, regozije-se!, tive vontade de dizer para mim mesma..."
" ... e de repente, o haka, que é um canto guerreiro, assumia toda sua força. O que faz a força do soldado não e a energia que ele concentra ao intimidar o outro, enviando-lhe um monte de sinais, mas é a força que ele é capaz de concentrar em si mesmo, ficando centrado em si mesmo..."
"A música tem imenso papel na minha vida. [...] Se ouço música de manhã, não é muito original: é porque isso dá o tom do dia..."
" ... Pois a arte é vida, mas em outro rítmo."
"É preciso que alguma coisa acabe, é preciso que alguma coisa comece..."
" ... O que é preciso viver antes de morrer é uma chuva torrencial que se transforma em luz. (...) Claro, todo mundo desconfia que, além de todo resto, isto é, de um abalo telúrico transtornando de cabo a rabo uma vida subitamente descongelada, alguma coisa trota na minha cabecinha (...) E essa alguma coisa se pronuncia: " e até mesmo tudo que desejarmos". "
" ... Mas sei que paramos os dois e respiramos fundo, deixando o sol aquecer nossos rostos e escutando a música que vinha do alto. (...) E ainda ficamos ali uns minutos, a escutar a música. Eu estava de acordo com ele. Mas por quê? Refletindo sobre isso, esta noite, com o coração e o estômago em migalhas, pensei que, afinal, talvez seja isso a vida: muito desespero, mas também alguns momentos de beleza em que o tempo não é mais o mesmo. E como se as notas de música fizessem uma espécie de parênteses no tempo, de suspensão, um alhures aqui mesmo, um sempre no nunca.
Sim, é isso, um sempre no nunca. (...)
Pois, por você, de agora em diante perseguirei os sempre no nunca.
A beleza neste mundo."